Moradores de Pernambuco que têm algum recurso financeiro precisam recorrer a unidades privadas para realizar exames de saúde com mais agilidade
“As fichas acabaram”, “marcação de exame só na próxima semana” e “não tem nada que eu possa fazer” são algumas das falas mais ouvidas por pacientes que tentam marcar exames em postos e unidades de saúde em Pernambuco. Uma das maiores dificuldades encontradas hoje na saúde pública é a fila de espera para marcação de exames.
Uma pesquisa desenvolvida pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) com base na opinião de pacientes mostra que a demora para conseguir consulta, exame ou cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal problema de saúde no país.
O estudo mostrou que entre as principais queixas dos pacientes da rede pública de saúde estão a superlotação dos hospitais, falta de leitos e de medicamentos, má infraestrutura e, principalmente, a demora para conseguir vagas de exames e outros tipos de atendimento médico.
A rede privada não fica para trás quando o assunto é este tipo de problema. O levantamento feito pelo Ipec revela que este é o único problema em comum entre os pacientes das redes pública e privada. Além deste problema, os usuários de planos de saúde e de hospitais particulares criticam a falta de médicos, valor baixo de reembolso e baixa cobertura de exames.
Por este último motivo, muitas pessoas que utilizam a rede privada recorrem ao SUS para conseguir exames.
“Consegui realizar meus exames, mas a demora foi grande. Levei quase um ano para fazer um exame de colonoscopia solicitado pelo hematologista. A dificuldade é muito grande mesmo e eles (profissionais de saúde) alegam que é por conta do número de pacientes. Então, a demanda é grande e os profissionais são poucos. Outro problema são os exames de sangue. O médico solicita e você vai marcar, mas só faz o exame mesmo com dois, três meses após a marcação. É um absurdo isso, mas acontece muito”, relata o auxiliar de lavanderia, José Luiz, de 46 anos, morador do Recife.
A situação é ainda mais delicada para pessoas que vivem no interior do estado, onde o acesso aos serviços de saúde são ainda mais precários e precisam recorrer à capital, como é o caso da estudante de pedagogia Marciana Brasileiro, de 32 anos, moradora de Buíque, no Agreste de Pernambuco.
“Não consegui fazer o exame de ressonância da minha filha pelo SUS. Estamos desde o começo da pandemia neste vai e vem e fizemos o exame dela por uma unidade particular pois estávamos esperando o exame há um ano”, relatou a estudante enquanto corria para pegar o ônibus de volta para a cidade onde mora, que fica a 280 km do Recife.
Precarização na saúde pública
Os investimentos em saúde pública no Brasil foram reduzidos em R$ 10 bilhões nos últimos dez anos, o que significa uma queda de 64% em verba destinada para esta área. Os dados são da Nota Técnica n. 29 “Orçamento da Saúde para 2023: o que mudou nos últimos dez anos?” publicada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em parceria com a Umane. A falta de investimento em saúde afeta a disponibilidade de profissionais, infraestrutura e, principalmente, a disponibilidade de atendimentos.
“A saída para a gestão de filas de espera de consultas e exames complementares é multifatorial. Primeiramente, fortalecimento da atenção primária, com maior resolutividade e eficiência. Os programas de saúde da família, por exemplo, estão mais próximos à população e um elevado percentual de pacientes que recorrem a grandes hospitais, podem ter suas demandas resolvidas sem precisar de grandes deslocamentos. Um sistema que detecte doenças precocemente e ofereça ao cidadão oportunidades de tratamento antes que requeiram acessar a atenção terciária (serviços de alta complexidade). Para isso, faz-se necessário disposição política , financiamento e gestão eficiente”, explica diretor da Faculdade de Medicana da UFPE, Luiz Alberto Mattos.
O profissional ainda destaca que “um segundo ponto primordial é o estabelecimento de um sistema de regulação de marcação de consultas e exames a nível estadual de elevada performance com programas interligados de informações dos pacientes, aproveitando sobretudo as tecnologias de saúde digitais que dispomos. Em resumo, um fortalecimento do SUS em suas diretrizes essenciais, com responsabilidade social e financiamento a contento”.
Fontes: Diario de Pernambuco